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"Histórias,  Lendas  e   Contos
 do meu Chão"

 

 

Livro de José Ramiro Moreira
(contacto)

 

livro editado pelo

Município de Oliveira do Hospital

   

não editadas

 

excertos

     

A Festa de Santo Antão

 

O Castanheiro da Botica

 

histórias

 

lendas

 

contos

 

2007 | http://colcurinho.chaosobral.org/hlcdomeuchao.htm

Edição de João Gonçalves.

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Sítio alojado em TugaNET.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   
HISTÓRIAS

 

   

O Zabumba

Casais nossos vizinhos

Do Colcurinho para Lourosa

As primeiras batatas

Origem do nome Chão Sobral

Origem da casa deste lado - no Colcurinho

A grande sequeira

A capela de São Lourenço

Os Franceses e o Avelar

Teresa Moreira do Avelar

O Caca e o Caeiros

A ceifa

No Tribunal de Penalva

A Fé da gente da Vide

Milagre de São Sebastião - em Alvôco

O Coimeiro

O grande habilidoso

O primeiro fogo

O lençol de sinal

Primeiro papagaio de papel

Os Velhos do Colcurinho:

O caçador de lobos - I

O caçador de lobos -II

III - O bom lavrador

IV - O queijo fresco

V - A azeitona

VI - Os quadros

VII - E o vento

VIII - Quatro cinco talhadas

IX - As cigarrilhas

X - As armas dos Varões assinalados

O último Bufo Real

As cucas

Mentiras de mãe

O pau da Missa

O diabo feito cabra

Sete currais de cabras

Aquele diabo do Zé Trindade

A mulher que foi ao pipo

A greve das andorinhas

Ditos de Saber Antigo

A primeira obra pública

O pastor que fazia parar

O "Tafula"

Os cruzeiros partidos

Bruxas

As melancias

O crucifixo pelo chão

A Guerra do Carvoeiros:

I - Zé Moreira na cadeia

II - A nossa Maria da Fonte

III - Os figos

IV - O único tiro

V - Senhora das Preces, se escapar!

VI - O fim - E uma avaliação nova

Ladrão duas vezes inocente

A casa antiga do meu Chão

Dois rapazes em Lisboa

O santito

As "Almas"

A pneumónica

A licença do porco

Uma lição para sempre

O último lobo

O jogador do pau

Tradições do meu Chão:

Fogueiras de São João

A fogueira do Natal

Da nossa cozinha:

O bucho

Os coscoréis

Os últimos romeiros a pé

O primeiro automóvel

O último campo de linho

A floresta

O fardadito

O último rebanho

O bom Samaritano

Os Homens de quem se fala:

O Ti Zé Mendes Caetano

O Ti Manel Alves

O Ti Abel

O Ti Manel Fontes do Tapado

O Ti António Miguel

Como chamavam o gado

O último carvoeiro

A música do faz de conta

Minha primeira tiborna

Valores do traje antigo - o gabão

Jogos Tradicionais - a chona

Os últimos pobres de pedir

A última malha

Ouro!

A estrada:

I - Velhos caminhos

II - Meu povo em cordão

III - Primeiros carros

O lagar velho do meu Chão

Nomes de fragas

Os últimos moradores

Castas de Castanheiros

Museu do Colcurinho

A Escola

As Fontes

A Procissão

A nódoa em Vale de Maceira

Os Baldios

A Electricidade

Homenagem aos combatentes

Um sonho que é história

A Senhora Laura

Letra de cantares antigos

Uma parcela do meu Chão

O muro

No miradouro do Santo

A Via e a Regueifa

Inscrição HISTÓRIA e tradição

 

 

   

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histórias

 

DO COLCURINHO PARA LOUROSA

 

Em tempos, do Colcurinho, (1)

Por caminhos muito maus,

Levavam para Lourosa (2)

Os mortos entre dois paus.

 

Embrulhado num lençol,

O melhor da roupa nova,

Desatavam-no dos paus,

Punham o morto na cova.

 

As sepulturas na rocha

Estão lá desaterradas.

São à porta da igreja,

Merecem ser visitadas.

 

E vejam lá na igreja,

Mais velha que Portugal,

Aquela poça na rocha

Que era a Pia Baptismal.

 

(1) Colcurinho, a 1 km de Chão Sobral,
é a terra antiga que nos deu origem, hoje desabitada.

 

(2) Lourosa a uns 25 km de distância.

 

 

histórias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

histórias

 

ORIGEM DA CASA DESTE LADO

 

No Colcurinho

 

O lugar do Colcurinho (l)

Era concelho de Avô,

Com casas só à capela, (2)

Até que um se chateou.

 

Este homem bem avisou

O juiz e o meirinho,

Que mudava de concelho

Sem sair do Colcurinho.

 

Diziam-lhe no caminho:

Nem com muito dinheiro!

Não sabiam que Penalva

Chegava lá ao ribeiro.

 

Sabe ele como se salva.

Fez a casa deste lado,

No concelho de Penalva

E sem sair, tinha mudado!

 

(1) Colcurinho, situado num vale,
dá nome a um monte da Serra do Açor.

 

(2) Capela de Santo Antão.

 

 

histórias

 

 

 

 

 

histórias

 

O PRIMEIRO FOGO

 

No Monte do Colcurinho

 

O giestal do Chão da Fonte

Já deu lá muito pão.

Quando semeavam centeio

Era o de melhor produção. (1)

 

O Ti’ António e o Ti’ Zé,

Dois irmãos do Colcurinho,

Queimavam lá a cavada, (2)

Mas levanta‑se um ventinho…

 

Só com dois a controlar...

E Agosto não é Inverno...

Que é isso aí, oi’Zé?!

É o dialho do inferno!

 

Era o lume que fugia.

Primeiro que há memória,

Que queimou o Carvalhal, (3)

Por isso a sua história.

 

(1) Contaram lá vinte espigas nascidas de uma semente.

 

(2) Terra de mato que de 6 em 6 anos queimam para semear centeio.

 

(3) A encosta norte do Monte do Colcurinho.
 

 

histórias

 

 

 

 

 

 

histórias

 

OS VELHOS DO COLCURINHO

 

O Caçador de Lobos - I

 

O Ti’ Zé do Colcurinho,

Quando era ainda novo,

Foi ao Outeiro do Seixo

Ver se caçava um lobo.

 

Para o atrair ao local

Foi acima duma fraga,

E pôs‑se lá a berrar

Tal como faz uma cabra!

 

Esperou debaixo dela,

Só uns minutos, poucos.

Vem um lobo, sobe à fraga,

E deu em uivar aos outros.

 

Era noite, havia lua.

Preparou-se e apontou

Arma de carregar pela boca,

Mas a arma avariou…

 

Com medo de virem mais

Foge a direito aos saltos,

Aos tombos e a acamar

Naqueles matagais altos!

 

Não contam se voltou lá,

Este herói do Colcurinho.

Mas contam outra caçada

Com um susto no caminho…

 

 

histórias

 

 

 

 

 

 

histórias

 

OS VELHOS DO COLCURINHO

 

O Bom Lavrador

 

O Ti’ Antoino do Colcurinho

Trazia lá o lavrador.

Não pôde ir o do costume,

Mas foi um irmão, a favor.

 

Deu o Ti’ Antoino umas bocas,

Sempre da mesma maneira.

Dizia ele mal disposto:

Não anda cá Manel Moreira...

 

Ouvia isto o José,

Ali atrás do arado,

E começou a deitar o pé

A todo o torrão mal virado.

 

Reparou o Ti’ Antoino,

Neste cuidado do meu avô,

E diz já satisfeito:

O Manel Moreira já chegou!

 

 

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histórias

 

OS VELHOS DO COLCURINHO

 

O Queijo Fresco

 

O Ti’ Antoino do Colcurinho

Trazia gente a sachar,

E serviu‑lhes queijo fresco,

No campo a almoçar.

 

Não apanhou a talhada,

Um que a deixou cair.

O Ti’ Antoino viu isto

E fez o que vão ouvir:

 

Tira uma talhada do prato,

Passa‑a na terra cavada,

Come‑a duma só vez,

Assim toda enterreada.

 

E diz no fim de comer,

Este velhote da serra:

Um homem só é Homem,

Se comer um moio de terra!

 

E por este queijo ou outro,

Disse ao pô‑lo na mesa:

Merecia ser partido

Por umas mãos com limpeza!

 

Eu trago‑as por sujar!

Diz uma, ali a ouvir.

Era o que o fazia falar…

Mas deu‑lhe o queijo a partir.

 

E à noite despediu‑a.

Não criticou o seu brilho.

Disse‑lhe unicamente:

Não tiras a erva ao milho!
 

 

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histórias

 

OS VELHOS DO COLCURINHO

 

A Azeitona

 

O Ti’ Antoino do Colcurinho

Não perdia ocasião,

Coisa de que não gostasse

Lá dava a sua razão.     

 

Contam que disse um dia,

De uma que alguém fez:

Antes me comam um queijo,

Que uma azeitona duma vez!

 

O queijo vem numa noite.

É quanto leva a criar!

A azeitona é um ano,

E é ruim de apanhar!

 

Ele a comer azeitonas

Não era nada glutão,

Porque comia com uma,

Uma fatia de pão!

 

 

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histórias

 

OS VELHOS DO COLCURINHO

 

E o Vento

 

Os velhos do Colcurinho

Para saberem do tempo,

Pela Santa Isabel,

Observavam o vento.

 

Na noite quatro de Julho,

Saber ou superstição,

É que faziam a prova,

Lá perto da povoação.

 

No outeiro das Cavadas,

Lugar do vento passar,

Com uma cesta de borralha,

Deitavam a cinza ao ar.

 

Para o lado que ficasse

Que ficava todo o ano.

Com a direcção do vento

Já podiam ter um plano.

 

 

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histórias

 

OS VELHOS DO COLCURINHO

 

As Armas dos Varões Assinalados

 

Havia no Colcurinho

Duas armas antigas

Que levaram descaminho,

Dizem pessoas amigas.

 

Eram de carregar pela boca,

Mas os lobos esperavam...

Se a remessa era pouca,

A dar tempo, esperneavam!

 

No Chão Sobral vi eu uma,

Era a Pederneira.

A outra, era a Reúna,

Mais grossa que a primeira.

 

Não sei se tinha a pedra

Como a que vi no Chão Sobral,

Que maior que uma moeda

Dava a faísca fatal.

 

Sei é que o meu avô André,

Por pouco não teve azar:

A Reúna disparou-se ao pé

Dos pastores, só a brincar.

 

Uns destes, doidos varridos,

Metiam no canhangulo

Por chumbo seixos partidos,

E de bucha um casulo! (1)

 

A ratoeira dos lobos

Um ferreiro a desmanchou.

Fez brochas para tamancos

Dos dentes que lhe tirou!

 

 

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histórias

 

SETE CURRAIS DE CABRAS

 

Os pastores do Colcurinho

Até já rogavam pragas,

Por os dum povo vizinho

Lhes ordenharem as cabras.

 

Se perdiam a cabrada

E ia ter à Gramaça,

Vinha de lá ordenhada.

Não dormia lá de graça!

 

Trazia o Chico Lameira

Uma tranca de cajado

Quando viu numa costeira

O gado deles, mal guardado.

 

Vai a elas sem carinho...

- Pobres cabras é que pagais!

Toca-as para o Colcurinho,

Encheu lá, sete currais!

 

 

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AQUELE DIABO DO ZÉ TRINDADE

 

Os pastores do Chão Sobral

Disseram aos do Colcurinho:

Tragam vocês as castanhas

Que nós cá damos o vinho!

 

Já noite, do Colcurinho,

Vão sair para o magusto.

O Zé Trindade das Corgas

Calado trama um susto...

 

Castanhas no carapuço,

Champorrião na cabaça, (1)

Traz o Chico do Parente,

E o Roque da Gramaça.

 

Mais o Joaquim do Baiol,

Que às Cavadas, ao curral,

Vê envolto num lençol

O Diabo no pinhal!...

 

Reparam os três à uma:

Que susto, que aflição!

Rebola-se na caruma!

Fogem de tamancos na mão.

 

Deu o Chico uma topada, (2)

De correr tão apressado,

Que chega à Eira de Baixo

C'um dedo quase cortado!

 

Nessa noite não voltaram.

De manhã não tinham pressa!

Com o Diabo nas Cavadas:

Vamos que lá se atravessa?!

 

(1) Aguardente, água e mel.

 

(2) Francisco Mendes.

 

 

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histórias

 

PRIMEIRA OBRA PÚBLICA

 

A Ponte do Colcurinho

 

Para o Vale de Maceira

Iam pelo Santo Antão.

E que grande chiadeira

Os carros de bois de então!

 

A ponte já foi depois

Do que lá deu que contar:

Vinham quatro juntas de bois,

Com o peso do lagar...

 

Que a ponte do Colcurinho,

Foi feita, mas só passado,

Um miúdo lá vizinho,

Lá ter morrido afogado.

 

É a primeira obra pública.

Foi a Junta da Freguesia,

Em princípios da República,

Ou fins da Monarquia.

 

Cinquenta anos depois

Fizeram a estrada plana.

Passou longe desta ponte

Que alguns julgam romana!

 

 

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histórias

 

MUSEU DO COLCURINHO

 

PLANO

 

Eis o plano dum caminho

De cultura e recreio.

Um museu do Colcurinho,

Em fotos e em recheio.

 

Arado de pau e grade,

Carro, bois e aguilhada.

Podão e corda do mato,

Milho, sachos e enchada.

 

Abelhas, cortiços e mel.

Urze, que não era pouca!

Favos, toso, crestadeira,

Pote com pano na boca.

 

Pastor, lata e cajado,

Gabão, burnal e cabrada;

Cincho, queijos, queijeira,

E a panela da coalhada!

 

Giestal, queimada, centeio,

Foice, ceifa, rolheiro,

Manguais, malha, joeira,

Arca, pães, tabuleiro.

 

Souto, assador, castanhas,

E cesto lobeiro de mão.

E a pilar as do caniço,

Um homem num canastrão!

 

Pipos, dorna e lagar.

Vinho que bebiam quente.

Medronheiros e medronhos,

Alambique e aguardente.

 

Grande ratoeira dos lobos!

Armas, chós e aboízes;

E a caça deste povo,

Coelhos, lebres e perdizes!

 

 

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A FESTA DE SANTO ANTÃO

 

A festa de Santo Antão,

No lugar do Colcurinho,

Era Missa e leilão

Quando eu era rapazinho.

 

Dos arredores acorriam

Mulheres, eles não tanto,

De o porco chegar ao dia,

A trazer a língua ao Santo.

 

Mais um pé, uma chouriça …

Ou carne já amarela,

A meter pouca cobiça …

Tudo dava cestas dela!

 

E não ficava por vender,

Até cestas por inteiro!

Bastava lá aparecer

Um certo homem grosseiro.

 

Minha bisavó do Val d’Água,

Era o único colorido!...

Com traje sem mostrar mágoa,

De lenço branco, florido!

 

A terra não tem roseiras,

No altar da capelinha

Punham sempre “jabardeiras”,

Com a baga vermelhinha!

 

Eu gostava de mirar,

Aquando destas visitas,

Os anjitos do altar

Com as suas cornetitas!

 

Nunca mais voltei a vê-la,

Outra coisa que lá via:

Os bacorinhos de cera

Que via na sacristia.

 

Nós tocávamos o sino,

Usando um pau comprido.

Esse som belo e fino,

Ainda o tenho no ouvido!

 

 

 

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O CASTANHEIRO DA BOTICA

 

O castanheiro da Botica

Vi-o morrer de velhinho.

Que esse local fica

No Soito do Colcurinho.

 

Era um tronco de respeito,

Até ao nível da poda!

À altura do nosso peito

Tinha doze metros à roda!

 

 

 

 

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LENDAS

 

   

A lenda das sete irmãs

Traziam a Santa para baixo

A lenda das cucas

O nome do Colcurinho

Com luzes nos cornos

 

O ouro no Cabeço

Os homens do Piódão

As pegadas

O pocinho

 

 

   

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CONTOS

 

   

O diabo no Chão Sobral

A raposa e a laje

A raposa e o lobo

O grilo e o lobo

A raposa que falou

Uma raposa aos cachos

A raposa e o galo

O pisco e o medronho

A raposinha alteira

O Maia e o Zézito

 

   

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José Ramiro Moreira

Travessa da Carreira, 2

Chão Sobral

3400 - 260 Aldeia das Dez

Portugal

 

 

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